quinta-feira, 16 de abril de 2009

Teologia

O catecismo me ensinou, na infância, a fazer o bem por interesse e não fazer o mal por medo. Deus me oferecia castigos e recompensas, me ameaçava com o inferno e me prometia o céu; e eu temia e acreditava.

Passaram-se os anos. Eu já não temo nem creio. E em todo caso - penso - se mereço ser assado cozido no caldeirão do inferno, condenado ao fogo eterno, que assim seja. Assim me salvarei do purgatório, que está cheio de horríveis turistas da classe média; e no final de contas, se fará justiça.

Sinceramente: merecer, mereço. Nunca matei ninguém, é verdade, mas por falta de coragem ou de tempo, e não por falta de querer. Não vou à missa aos domingos, nem nos dias de guarda. Cobicei quase todas as mulheres de meus próximos, exceto as feias, e assim violei, pelo menos em intenção, a propriedade privada que Deus pessoalmente sacramentou nas tábuas de Moisés: Não cobiçarás a mulher do próximo, nem seu touro, nem seu asno... E como se fosse pouco, com premeditação e deslealdade cometi o ato do amor sem o nobre propósito de reproduzir a mão-de-obra. Sei muito bem que o pecado carnal não é bem visto no céu; mas desconfio que Deus condena o que ignora.


Eduardo Galeano

2 comentários:

  1. Fala Eduardo
    Muito bom comentario a respeito da Teologia - Sincero e comico. Agradeço todos os dias por ter visto zeitgeist the movie....mas agradeço a Peter Joseph isso sim - hahahaha - Foi como acordar de um transe hipnotico...foi como escolher a pirula vermelha do Matrix...vc sabe como è....e como diria David Icke "God save us from religion" :)
    Atualmente provomo a divulgacao do Zeitgeist Movement - Confira umas dicas no link abaixo:
    http://factualsolutions.blogspot.com/2009/03/spread-awareness.html

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  2. Simplesmente fantástico.

    O que mais deixa óbvio que estamos para criar uma nova era é não conseguir deixar de observar como tudo ficou obsoleto.

    Quantas pessoas você já conheceu que disseram ao menos uma vez: "eu não sou desse mundo..." Foi Peter Joseph que começou a me explicar por que me sinto assim.

    Viva o novo... porque esse hábito não cai bem em mim...

    Abraços!

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